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ALEITAMENTO

A quantidade e a forma do fornecimento de leite ao bezerro pode afetar características fisiológicas, imunológicas, comportamentais e de importância econômica. A quantidade de leite ingerida no período de pré-desmame não apenas influencia a ingestão de sólidos, o crescimento e a saúde, mas também o desenvolvimento do intestino, o crescimento mamário e a futura lactação do animal.

 A quantidade de leite frequentemente recomendada na literatura técnica brasileira, e utilizada por grande parte dos produtores é aproximadamente 10% do peso vivo, ou 4 litros de leite por dia. Isso representa cerca de metade do consumo ad libitum de uma bezerra. Mesmo quando as bezerras têm acesso a ração inicial, o consumo de alimentos sólidos no primeiro mês não é suficiente para compensar a restrição nutricional de uma bezerras que recebe 4 litros de leite ao dia.

Bezerros alimentados de acordo com as práticas convencionais mostram comportamentos indicativos de fome, como sugações não-nutritivas e vocalizações. Além disso, têm uma redução no crescimento e saúde, e maior risco de mortalidade perinatal em comparação com bezerras que recebem mais leite.

   Essa recomendação é baseada na crença de que o ganho de peso no período de aleitamento artificial não tem consequências a longo prazo. No entanto, um recente estudo realizou uma meta-análise de 12 estudos que haviam relacionando o consumo de leite com a produção da futura vaca.

Nesse estudo conclui-se que o aumento da ingestão de nutrientes do leite ou sucedâneo de leite em bezerras durante o período de aleitamento tem impacto global positivo sobre a produção de leite já a partir da primeira lactação. Além disso, encontraram que esses efeitos ocorriam independentemente do mérito genético das vacas. Ou seja, é possível concluir que esses benefícios tendem a estender-se aos genótipos de gado utilizados em diversas regiões do Brasil.

   Esses resultados precisam ser amplamente conhecidos e discutidos no meio produtivo, para encorajar a mudanças na prática de alimentação de bezerras de reposição leiteiras. Os benefícios serão tanto para o crescimento e produtividade como para o bem-estar desses animais.

INTERSUGACÃO

O processo de domesticação pouco modificou os comportamentos inatos das espécies domesticadas. O bezerro nasce com alta motivação para desenvolver estes comportamentos, que estão relacionados à sobrevivência dos indivíduos e, portanto, da espécie. A ausência de uma teta que o animal possa sugar levará o bezerro a uma privação deste comportamento. A privação, por sua vez, leva o animal a atividades compensatórias, como o redirecionamento comportamental ou comportamentos estereotipados.

Quando o comportamento é redirecionado aos outros companheiros de baia chamamos de amamentação cruzada ou intersugação. Além da intersugação, existem outros comportamentos como a auto-sugação e a sugação não-nutritiva de objetos.

Quando bezerros são criados separados de suas mães ocorrem muitas sugações não-nutritivas de objetos. O comportamento de intersugação pode causar perda de pelo e lesões nas áreas sugadas como orelhas, umbigo, tetas, prepúcio ou outras partes do corpo. A maior parte das intersugações ocorrem na região do úbere, escroto ou prepúcio dos companheiros.

 Após o desaleitamento, devido ao desenvolvimento dos animais e à mudança para dieta sólida, a intersugação geralmente desaparece. Entretanto em alguns dos animais este redirecionamento comportamental pode permanecer, sendo que a forma de transição da dieta é importante para a descontinuidade deste comportamento. Além disso, quando os bezerros são submetidos a ambientes que os impedem de mamar, pastar ou ambientes entediantes, também podem realizar o comportamento de enrolar a língua.

   Bezerros separados da mãe precocemente têm maior motivação para sugar que os separados mais tarde, e são vistos mais comumente redirecionando este comportamento para sugar sua baia ou companheiros de baia, principalmente nos períodos imediatamente após o fornecimento de leite. Além disso, a sugação não nutritiva ocorre em bezerros criados sem acesso à teta (seja da vaca ou artificial) e alimentados com quantidade de leite que não suprem o seu apetite.

Após a ingestão do leite, principalmente quando este é recebido em balde e ingerido rapidamente, os animais ainda permanecem com a motivação a sugação. Este comportamento de sugação vai se realizar nos 10 a 15 minutos subsequentes ao fornecimento de leite. Nos sistemas de aleitamento com balde, a necessidade do bezerro de sugar não é suprida, levando a uma alta frequência de comportamentos anômalos. Quando o leite é ministrado através de balde, o bezerro leva menos de 5 minutos para consumir 10% de seu peso vivo em leite. Já quando os bezerros têm leite disponível por 24 horas, realizam até 10 eventos de alimentação nas 24 horas. Por isso, o aleitamento em balde é proibido em sistemas que consideram o bem-estar animal, como na produção orgânica. A motivação para a sugação não é somente dependente da ausência da teta, estando fortemente relacionada com a fome do animal.

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