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COMPORTAMENTO E BEM-ESTAR ANIMAL

A etologia (o estudo do comportamento) é considerada uma ferramenta muito útil para avaliar condições de bem-estar animal, pois além de envolver métodos não invasivos, disponibiliza informações não relacionadas a indicadores biológicos. Não é possível acessarmos o estado de bem-estar de um animal somente através de indicadores fisiológicos e, portanto, os comportamentos e as preferências dos animais devem ser estudados para que ao projetar ambientes, características escolhidas por eles possam ser incorporadas.

Resultados interessantes de experimentos que tenham utilizado testes de preferência permitem conciliar aumento na produtividade com maior conforto para os animais. Por exemplo, detalhes sutis como o tamanho dos bebedouros e a área do espelho d’água podem afetar a escolha do bebedouro e o consumo de água em vacas leiteiras. Bebedouros grandes, circulares e com espelho d’água maiores, são, além de preferidos, os que resultam em maior consumo de água - e, consequentemente, em maior produção de leite.

ALGUNS ASPECTOS FUNDAMENTAIS DO COMPORTAMENTO DOS BOVINOS

O reconhecimento de vários fenômenos discutidos a seguir é fundamental para o adequado manejo dos rebanhos. Os bovinos, como os outros animais, sentem fome, sede, medo, estresse e, muito importante, aprendem a partir de suas experiências.

A melhor forma de avaliar o bem-estar de um animal no seu ambiente é através da avaliação do seu comportamento. Assim, é necessário conhecer alguns aspectos básicos do comportamento animal que podem ajudar a assegurar que eles sejam criados em condições satisfatórias de bem-estar.

Os sentidos

Os bovinos têm a visão característica de espécies-presa: os olhos são posicionados mais lateralmente, o que permite ficar alerta a presença de predadores. O campo visual é bem amplo, cerca de 330º, conferindo uma visão periférica monocular. Isso permite manter contato visual com os demais membros do rebanho, porém dificulta a percepção de profundidade dos objetos, ou seja, a distância exata que eles estão desses objetos. Por isso é importante que currais, centros de manejo e salas de ordenha não tenham paredes ripadas, pois o animal percebe sombras no chão, como se fossem buracos, tornando difícil a locomoção. Os bovinos enxergam cores, e são muito sensíveis a contrastes de luz e escuridão, como podem existir dentro de uma sala de ordenha ou em centros de manejo. Uma mera sombra pode dar a impressão ao animal de que ele se dirige a um buraco, fazendo-o parar. Além disso, os bovinos ouvem bem, e usam vocalizações, ou seja, o mugido, para se comunicar com outros bovinos.

Campo visual do bovino

Os bovinos são muito sensíveis a contrastes de luz e escuridão. Sombras podem dar a impressão ao animal de que ele se dirige a um buraco, fazendo-o parar.

O bovino no seu grupo social

Os bovinos são animais gregários, ou seja, vivem em grupos. Eles se sentem melhor quando estão em companhia dos demais animais do seu rebanho, e portanto isolar bovinos, como se costuma fazer com os bezerros, deve ser evitado. As interações entre os bovinos são de dois tipos: agressivas, incluindo cabeçadas e empurrões, ou amistosas, como lambidas, coçadas, esfregões entre os animais. Com esses comportamentos os bovinos podem avaliar seu status e dos demais animais dentro do grupo, e formam uma hierarquia social relativamente estável, que possibilita a minimização das agressões.

Os comportamentos afiliativos, particularmente as lambeduras, são tão importantes quanto os comportamentos agonísticos no estabelecimento e manutenção dos vínculos sociais. Os bovinos costumam lamber uns aos outros, principalmente os que têm mais familiaridade entre si, por cuidado corporal (limpar-se mutuamente). As lambidas ocorrem com maior frequência nos períodos de alimentação, o que tem levado alguns autores a interpretar esse comportamento como uma ferramenta de coesão social, que teria a função de manter o grupo junto durante o pastoreio, tornando o indivíduo menos vulnerável à predação.

Em um rebanho leiteiro geralmente as vacas mais velhas e as maiores são dominantes sobre as mais jovens e as menores. Essa hierarquia social determina que os animais dominantes tenham prioridade de acesso ao alimento, à água, ao local mais confortável para dormir, sem isso envolver atos de agressão dentro do grupo. Quando algum desses recursos é limitado, os animais dominantes podem impedir os demais de terem acesso aos mesmos em quantidades suficientes. Por exemplo, se houver pouco espaço de sombra, as vacas subordinadas serão encontradas mais frequentemente ao sol e se houver limitação no acesso a bebedouros, vacas subordinadas irão beber menos frequentemente.

 

Além disso, deve-se ter muita atenção com os efeitos das relações de dominância em sistemas confinados. Se houver falta de espaço, a agressão dentro do grupo pode aumentar, impedindo os animais subordinados de evitarem os confrontos e limitando severamente o seu acesso desses aos recursos, como área de descanso ou o alimento.

É comum ver bovinos realizando o mesmo comportamento simultaneamente. Isso ocorre devido a um fenômeno que é chamado de facilitação social: um ou mais animais realizam algum comportamento motivados por outro indivíduo do grupo. Por exemplo, quando um animal inicia a pastar, outros o seguem.

Quando todo o grupo é trazido para uma mesma ação, chamamos “efeito de grupo”, que é um tipo de facilitação social. É o caso de deslocamentos do grupo inteiro para beber água ou buscar outro sítio de pastoreio.

Comportamentos como deslocamentos, acesso à fonte de água ou o próprio pastoreio e descanso são influenciados por ritmos circadianos e pelo fenômeno da facilitação social.

Além disso, entre os bovinos existe a figura do líder, que é aquele animal que toma a iniciativa para iniciar determinados comportamentos, como entrar na sala de ordenha, ou levantar para pastar, ou tomar água.

O líder é normalmente um animal mais experiente e/ou independente. Não necessariamente o líder é o mesmo para cada atividade, nem o dominante do grupo. Além disso, ele não determina a ação do grupo, simplesmente toma as iniciativas de iniciar um dado comportamento que os demais animais do rebanho seguem.

Um animal é considerado em bom estado de bem-estar se estiver saudável, confortável, bem nutrido, seguro, capaz de expressar seu comportamento inato/natural, e se não estiver sofrendo com dores,
           medo e angústias.
O QUE É BEM-ESTAR ANIMAL?
Bem-estar animal requer prevenção contra doenças e tratamento veterinário, abrigo adequado, gerenciamento, nutrição, manejo cuidadoso e abate humanitário.
 
 
Organização Mundial para a Saúde Animal, 2013

Três principais questões capturam a essência da discussão em torno do bem-estar de animais criados para fins zootécnicos: as experiências subjetivas dos animais; a sua capacidade de adaptação ao ambiente, incluindo a possibilidade de manifestação de comportamentos inatos altamente motivados, e o estado biológico dos animais.

 

Bem-estar animal refere-se a como um animal está lidando

com as condições em que vive; ou seja, diz respeito ao estado do animal, e não às condições ambientais que lhe são oferecidas.

 

Pode-se avaliar o grau de bem-estar em que o animal se encontra; este grau pode variar de muito pobre a muito bom, conforme a escala abaixo:

Na prática zootécnica, fatores ambientais que limitam a expressão dos comportamentos naturais dos animais e geram emoções negativas podem prejudicar a saúde, a produtividade, a reprodução e a longevidade dos animais.

 

Ao discutir e avaliar o bem-estar de animais usados na produção de alimentos, é essencial considerar que o público (ou pelo menos a parte do público que se manifesta ativamente a respeito) tende a valorizar principalmente as experiências subjetivas como a dor e a habilidade dos animais expressarem comportamentos naturais no seu ambiente de criação.

 

No entanto, não é o modelo de produção em si o que proporciona ou não condições de bem-estar aos animais, mas também várias condutas tomadas no manejo dos animais. Um animal criado em regime de estabulação que tenha suas necessidades de espaço, conforto, nutrição e sanidade atendidas, pode ter melhor bem-estar do que o animal no campo que não recebe os mesmos cuidados. Por outro lado um animal criado em estabulação com alimento e água disponíveis à vontade pode viver em privação de movimentação ao ponto de ter seu aparelho locomotor afetado ou mesmo a sua longevidade limitada.

Por isso, ao avaliar o sistema de criação em relação ao bem-estar animal, nunca se deve comparar sistemas diferentes em condições diferentes. O correto é discutir o potencial de cada sistema para oferecer as melhores condições e bem-estar, levando em conta as condições ambientais da região, especialmente as climáticas, mas não esquecendo as culturais e econômicas.

   A sociedade contemporânea, que já estava atenta à qualidade do produto final, passou a ser mais exigente quanto ao processo produtivo como um todo, e a valorizar sistemas que demonstrem responsabilidade ética na criação dos animais. O público acredita que o bem-estar dos animais seja melhor em sistemas extensivos, pois considera importante a liberdade dos animais expressarem seus comportamentos naturais.

COMO AVALIAR O GRAU DE BEM-ESTAR ANIMAL?

Para avaliar o grau de bem-estar animal fazemos uso de algumas ferramentas, dentre elas, a etologia (estudo do comportamento social e individual dos animais) que envolve métodos não invasivos e disponibiliza informações além dos indicadores biológicos.

Não é possível acessar o estado de bem-estar de um animal somente através de indicadores fisiológicos; portanto, os comportamentos e as preferências dos animais devem ser estudados para que possamos projetar os ambientes com características que eles preferem.

Por exemplo, emoções positivas em relação ao ambiente podem ser observadas através de testes de preferência e motivação dos animaisResultados interessantes de experimentos que utilizam testes de preferência permitem conciliar aumento na produtividade com maior conforto para os animais. Por exemplo, alguns detalhes sutis, como o tamanho dos bebedouros e a área do espelho d’água, podem afetar não somente a escolha do bebedouro como inclusive o consumo de água em vacas leiteiras -- sendo bebedouros com espelho d’agua maiores os preferidos.

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